Calendário de Classe
Apesar de todos os apelos da sociedade de consumo, ainda não somos descartáveis. Para vivermos o presente e construirmos o futuro, precisamos conhecer nossa história, homenagear nossos mártires, cultivar nossa cultura, valores e tradições de luta.
A cada edição, o Pavio Curto publicará este calendário apresentando datas e acontecimentos importantes para a classe trabalhadora. Acontecimentos que devem ser estudados e debatidos. Datas que merecem nossa lembrança.
16, 1920 – Nascimento de Elizeth Cardoso
A Divina...a Enluarada...assim permanece lembrada Elizeth Cardoso, neste 16 de julho, quando completaria 101 anos. Ela é considerada uma das maiores intérpretes da música brasileira, além de uma das mais talentosas cantoras de todos os tempos. Shows, discos, parcerias e interpretações inesquecíveis marcaram a carreira dessa carioca nascida em uma família pobre, que nunca esqueceu sua origem popular. Também não se curvou ao machismo e ao preconceito dominante no meio artístico da sua época. A obra e a vida de Elizeth permanecem vivas, porque, segundo Chico Buarque ela “é a nossa cantora mais amada. Voz de mãe, e mãe de toda as cantoras do Brasil. “
18, 1918 – Nascimento de Nelson Mandela
Nelson Mandela (1918 - 2013) foi um líder que marcou a história da África do Sul e influenciou uma mudança de pensamento no mundo inteiro. Ao longo de sua vida nos presenteou com várias mensagens de sabedoria que nos inspiram e motivam a lutar pela justiça social, pela liberdade, pelo amor, pela vida. Neste 18 de julho, quando completaria 103 anos, Mandela, o Madiba, prêmio Nobel da Paz em 1993 e primeiro presidente negro da África do Sul (1994-99) é homenageado pelo Pavio Curto por algumas de suas lindas frases que permanecem no nosso coração e na memória da humanidade.
“Lutei contra a dominação branca e contra a dominação negra. Defendi o ideal de uma sociedade democrática e livre, na qual todas as pessoas vivem juntas em harmonia e oportunidades iguais. É um ideal para o qual espero viver e conseguir realizar. Mas, se for preciso, é um ideal para o qual estou disposto a morrer”. (1964)
“A grandeza da vida não consiste em não cair nunca, mas em nos levantarmos cada vez que caímos”. (1994)
“Se você falar com um homem numa linguagem que ele compreende, isso entra na cabeça dele. Se você falar com ele em sua própria linguagem, você atinge seu coração”. (1994)
“Lutar contra a pobreza não é um assunto de caridade, mas de justiça”. (2005)
18, 1936 – Guerra Civil Espanhola
Em fevereiro de 1936, a Frente Popular reunindo vários setores democráticos e de esquerda (socialistas, comunistas, anarquistas, liberais) elegeu Manuel Azaña como presidente. Em uma tentativa de golpe da extrema direita em 18 de julho começava a Guerra Civil Espanhola.
Essa guerra, devido ao clima político internacional na época, teve muitas facetas, e diferentes pontos de vista a viram como uma luta de classes, uma guerra religiosa, uma luta entre ditadura e democracia republicana, entre revolução e contrarrevolução, entre fascismo e comunismo.
Os nacionalistas venceram a guerra no início de 1939 e governaram a Espanha até a morte de Franco em novembro de 1975. Durante 36 anos, essa ditadura causou a morte de mais de 500 mil pessoas. Em 2007, o Papa Bento XVI beatificou esses mortos, porém em 2013 os sobreviventes da ditadura do general Franco pediram ao Papa Francisco que reconhecesse o apoio da Igreja Católica à ditadura na Espanha.
A lei de anistia de 1977 garante a imunidade de todos os agentes do Estado envolvidos em qualquer tipo de denúncia. Apenas em outubro de 2008 o então juiz Baltasar Garzón, conhecido por ter pedido a prisão do ditador chileno Augusto Pinochet, abriu a primeira causa na história espanhola para investigar os crimes ocorridos entre 1936 e 1975.
Integrantes de diferentes associações de vítimas da guerra civil (1936-1939) e do franquismo (1939-1975) pediram a abertura de uma Comissão da Verdade e do julgamento dos implicados nos crimes cometidos durante a guerra e a ditadura de Francisco Franco, o que só aconteceu em 2018.
20 – Homem na Lua
Sim, o ser humano foi à lua e não, a Terra não é plana.
A Apollo 11 foi um voo espacial tripulado norte-americano responsável pelo primeiro pouso na Lua. Os astronautas Neil Armstrong e Buzz Aldrin alunissaram o módulo lunar Eagle em 20 de julho de 1969 às 20h17min, horário norte-americano.
Armstrong e Aldrin passaram um total de 21 horas e meia na Lua até reencontrarem-se com Collins.
O pano de fundo dessa viagem era a Guerra Fria que impulsionou a Corrida Espacial.
Poucos sabem, mas o principal engenheiro pela chegada à Lua foi Wernher von Braun, um nazista que se entregou aos norte-americanos. Do outro lado, na extinta União Soviética o engenheiro Sergei Pavlovich Korolev era quem comandava a corrida. Antes de sua súbita morte em 1966, a União Soviética liderava a corrida espacial, e planos para colocar o primeiro homem na lua haviam começado a serem implementados. Sergei Korolev foi, ao contrário do que é propagado, o verdadeiro criador do desafio de levar homens à lua, embora a URSS nunca tenha admitido publicamente que pretendia este feito. Os Estados Unidos, em contrapartida, o fizeram através de um desafio público lançado pelo presidente John F. Kennedy.
Antes de sua morte ele era conhecido como "Engenheiro Chefe", pois os soviéticos temiam que os Estados Unidos enviassem agentes para assassiná-lo.
23, 1993 – Massacre da Candelária
Na noite de 23 de julho de 1993, pouco antes da meia-noite, um táxi e um Chevette com placas cobertas pararam em frente à Igreja da Candelária, no centro do Rio de Janeiro. Em seguida, os ocupantes atiraram contra dezenas de pessoas, a maioria adolescentes, que estavam dormindo nas proximidades da Igreja.
Posteriormente, nas investigações, descobriu-se que os autores dos disparos eram milicianos. Como resultado, seis menores e dois maiores morreram e várias crianças e adolescentes ficaram feridos. Segundo estudos realizados por associações ligadas à organização Anistia Internacional, quarenta e quatro das setenta pessoas que dormiam nas ruas daquela região perderam a vida de forma violenta. A maioria das vítimas eram pobres e negras.
Os nomes dos oito mortos no episódio encontram-se inscritos em uma cruz de madeira, erguida no jardim de frente da Igreja:• Paulo Roberto de Oliveira, 11 anos
• Anderson de Oliveira Pereira, 13 anos
• Marcelo Cândido de Jesus, 14 anos
• Valdevino Miguel de Almeida, 14 anos
• "Gambazinho", 17 anos
• Leandro Santos da Conceição, 17 anos
• Paulo José da Silva, 18 anos
• Marcos Antônio Alves da Silva, 19 anos
Infelizmente, os massacres continuam hoje, uns velados, outros escancarados nos noticiários através das incursões das polícias nas comunidades. A guerra contra o tráfico é na verdade a guerra contra o pobre, principalmente contra o preto.
24, 1995 – Assassinato do padre Ezequiel Ramin
Nesse dia, Padre Ezequiel foi brutalmente assassinado quando voltava de uma missão de paz, juntamente com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Cacoal (Rondônia).
Ele foi falar a colonos ameaçados de despejo para que não partissem para o conflito. Enquanto voltava para casa, o carro em que viajavam foi alvejado por tiros. Nem os mandantes ou os assassinos foram presos. Ele tinha 32 anos.
Padre Ezequiel era missionário comboniano. Em 1980, foi ordenado em Pádua, e permaneceria na Itália até ser enviado para o Brasil, em 1983.
Depois de alguns meses em Brasília, onde estudou português e a realidade da sociedade e da Igreja brasileira, foi enviado para a comunidade de combonianos em Cacoal.
Na região, encontrou uma acentuada situação de desigualdade social decorrente da ausência de reforma agrária e uso da violência pelos grandes latifundiários, que grilavam terras para ampliar suas propriedades. Desse modo, colocou-se ao lado dos indígenas e pequenos trabalhadores rurais na luta pelo direito à terra, ao trabalho e à vida digna.
Documentário
Em 2015, a Verbo Filmes, produtora ligada à Congregação do Verbo Divino, lançou o documentário “Ezequiel Ramin – O Mártir da Opção pelos Pobres”, produzido em parceria com os missionários combonianos.
25 – Dia do Trabalhador Rural
No dia 25 de julho e 1824, aconteceu no Brasil a primeira conquista de terra para quem nela trabalha pelos pobres migrantes. Quando a classe dominante brasileira (senhores de engenho, donos de minas, grandes criadores de gado) percebe que o fim da escravidão é apenas uma questão de tempo, busca outra alternativa para continuar explorando os trabalhadores com a cumplicidade dos governos do países europeus (Alemanha, Polônia, Itália) para trazer de lá mão de obra mais barata dos camponeses.
O primeiros a chegarem foram os suíços, que foram instalados em 1819 em Nova Friburgo (RJ), para produzirem alimentos para a cidade do Rio de Janeiro. Os de maior destaque, entretanto, são os imigrantes que foram encaminhados para o sul do Brasil (RS, SC e PR). As primeiras terras que receberam estavam habitadas por povos indígenas. Nessa batalha campal, vencia o mais forte. Muitos morreram nessa guerra entre irmãos (tanto indígenas como imigrantes); outros morreram doentes. Os que sobreviveram enfrentaram muitas dificuldades.
O dia 25 de julho simbolizou um marco na conquista do direito à terra pelos pobres, até então negado. Símbolo da migração camponesa, a data foi aos poucos sendo popularizada pelas Igrejas Católica e Luterana, como dia dos agricultores, dos trabalhadores da roça. Ao longo dos anos foi se ampliando e hoje, assimilado pelas organizações dos trabalhadores, se nacionalizou.
Na ditadura militar, o governo Médici quis mudar a data e decretou o 25 de maio como dia oficial do Trabalhador Rural, em homenagem ao Estatuto do Trabalhador Rural e ao Funrural, duas leis dirigidas ao campo. Mas a data não teve a adesão das organizações dos trabalhadores e acabou sendo esquecida.
A partir de 1824, ingressaram no Brasil, como migrantes, camponeses oriundos da Europa, mais de 1,6 milhão de italianos (parte ficou nas cidades), 700 mil espanhóis (muitos como artesãos nas cidades), 250 mil alemães, 220 mil japoneses e 100 mil de outras nacionalidades. E ainda mais de 1,7 milhão de portugueses pobres, mas a maioria se radicou no comércio.
25 - Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha
Em 25 de julho de 1992, durante o I Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas, em Santo Domingo, na República Dominicana, estipulou-se que este dia seria o marco internacional da luta e da resistência da mulher negra. Desde então, muitas ONGs têm atuado para consolidar e dar visibilidade a esta data, tendo em conta a condição de opressão de gênero, raça e etnia vivida pelas mulheres negras latino-americanas e caribenhas.
No Brasil, a data homenageia a líder quilombola Tereza de Benguela, símbolo de luta e resistência do povo negro. A mulher negra é, ainda hoje, a principal vítima de feminicídio, das violências doméstica e obstétrica e da mortalidade materna.
Tereza de Benguela, foi uma mulher quilombola, rainha e chefe de estado, que viveu no século XVIII no Vale do Guaporé. Ela liderou o Quilombo de Quariterê, no estado do Mato Grosso, que resistiu da década de 1730 até o final do século.
Referências:
Calendário Histórico dos Trabalhadores – MST, 1998; Calendarr Brasil; Calendário Feminista; Opera Mundi; Gazeta do Povo; O Globo; Wikipédia;
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