sexta-feira, 30 de abril de 2021

MAIO

Apesar de todos os apelos da sociedade de consumo, ainda não somos descartáveis. Para vivermos o presente e construirmos o futuro, precisamos conhecer nossa história, homenagear nossos mártires, cultivar nossa cultura, valores e tradições de luta.

A cada edição, o Pavio Curto publicará este calendário apresentando datas e acontecimentos importantes para a classe trabalhadora. Acontecimentos que devem ser estudados e debatidos. Datas que merecem nossa lembrança.


 Dia 5, 1818 

Nascimento de Karl Marx

Karl Marx nasceu em 5 de maio de 1818 em Trier, Alemanha, filho de Heinrich e Henrietta Marx. Nascido em uma família de classe média, Marx tinha oito irmãos, sendo que cinco morreram ainda jovens. Em outubro de 1835, com 17 anos, ingressou na Faculdade de Direito da Universidade de Bonn. Em 1836, seu pai transferiu-o para a Universidade de Berlim, a maior da Alemanha.



Em 1842, Marx começou a trabalhar como jornalista. Seu primeiro artigo, “Comentários sobre a última Instrução sobre a Censura”, foi censurado pelas autoridades. Em outubro de 1842, assumiu a direção da Gazeta Renana, de Colônia. Logo, a circulação do jornal dobrou, adquirindo influência e expressão nacional devido aos incisivos artigos de Marx. Em janeiro de 1843, o governo prussiano decidiu fechar o jornal, após meses de censura implacável. A última edição foi publicada em 31 de março.

Depois de constantes perseguições dos governos por onde passou, Marx viajou para Paris, onde estabeleceu contato com diversos grupos de trabalhadores alemães. Lá, tornou-se comunista convicto e começou a registrar suas ideias e novas concepções em uma série de escritos.

Na Conferência da Liga, em 1847, Marx e Engels receberam a incumbência de escrever um manifesto que fosse a expressão clara de todas as ideias e concepções comunistas. Logo após a publicação desse documento, o Manifesto Comunista, uma onda de revoluções varreu a Europa. Em 1849, voltou a Paris, de onde foi expulso durante as manifestações populares daquele ano. De lá, exilou-se em Londres, onde levou uma vida modesta ajudado pelo seu amigo Engels. Em 1867, seu principal livro, O Capital, foi publicado. Nele, Marx desenvolve sua teoria sobre o valor do trabalho, a mais valia e a exploração. Dedicou ainda grande parte do seu tempo à construção da Internacional Comunista, atuando de maneira incansável na preparação de seus congressos anuais. Marx morreu em 14 de março de 1883, em Londres.

Logo após sua morte, Engels, grande amigo e compartilhador das ideias de Marx, publicou grande parte das suas obras. Cientista social, historiador, jornalista e militante revolucionário, Marx foi sem dúvida o pensador socialista que maior influência exerceu sobre a humanidade.


 Dia 13, 1888 

Lei da Abolição da Escravatura

Entre 1521 e 1859, mais de 6 milhões de negros africanos foram escravizados e trazidos à força para o Brasil. No início do século XIX, estava claro que não seria possível manter por muitos anos a escravidão. Os ideais da Revolução Francesa (1789) – “igualdade, liberdade e fraternidade” – ganhavam cada vez mais adeptos, inclusive no Brasil. E mais importante: o nascente capitalismo estava provando, na prática, que o trabalho assalariado rendia muito mais.

Após muita pressão da Inglaterra, maior potência econômica mundial da época, o Brasil foi o último país do mundo a abolir a escravidão. Como sempre, o conservadorismo das nossas elites retardou ao máximo a decisão. Na região do Vale do Paraíba fluminense, inclusive, vários fazendeiros resistiram à Lei Áurea, assinada pela princesa Isabel em 13 de maio de 1988.

Na época, mais de 90% dos escravizados já estavam libertos. A Vila de Acaraté, no Ceará, foi a primeira localidade brasileira a acabar com a escravidão, em 1882. Em 1884, os escravizados foram libertados em todo o estado do Ceará e também no Amazonas.

Sem-terra, sem dinheiro, sem ter onde trabalhar, os negros foram aos milhares para as cidades do Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo e outras. Sem conhecer o funcionamento da vida da cidade e sem experiência de trabalho em fábrica, eles acabaram ficando com os piores empregos. Foi essa herança que receberam depois de terem trabalhado 300 anos produzindo riquezas para os senhores de engenho, fazendeiros e donos da minas de ouro, todos amigos de Portugal.

Passados mais de 120 anos da abolição da escravatura, os negros continuam sendo discriminados nas escolas, nos empregos, nos ônibus, nas ruas, nos salários, na TV, e perseguidos pela polícia.



Referências:

Calendário Histórico dos Trabalhadores – MST, 1998

Almanaque Brasil – Editora Terceiro Milênio – 2000


Palavras para Glossário: Sociedade de consumo, comunista, manifesto, capital, mais valia, socialista, capitalismo, conservadorismo, elites.

sábado, 10 de abril de 2021

ABRIL

Apesar de todos os apelos da sociedade de consumo, ainda não somos descartáveis. Para vivermos o presente e construirmos o futuro, precisamos conhecer nossa história, homenagear nossos mártires, cultivar nossa cultura, valores e tradições de luta.

A cada edição, o Pavio Curto publicará este calendário apresentando datas e acontecimentos importantes para a classe trabalhadora. Acontecimentos que devem ser estudados e debatidos. Datas que merecem nossa lembrança.


 De 15 a 20/04, 1906 

1º Congresso Operário do Brasil (RJ)

No início do século XX, instalaram-se as primeiras fábricas no Brasil, dando origem ao operariado industrial. O nascente movimento operário brasileiro recebeu grande influência das ideias anarquistas, atraídas pelos migrantes europeus.

O 1º Congresso Operário do Brasil, realizado em 1906 no Rio de Janeiro, deu origem à Conferência Operária Brasileira, à COB, fundada em 1908, primeira organização operária de caráter nacional do país.

Participaram 43 delegados representantes de 28 organizações operárias de vários estados brasileiros. O programa de lutas aprovado no Congresso, tinha, entre outras propostas: redução da jornada de trabalho, estímulo à sindicalização, regulamentação do trabalho e liberdade de reunião.


 Dia 17, 1996 

Dia Internacional da Luta Camponesa

No dia 17 de abril de 1996, durante a Marcha por Emprego e Reforma Agrária, em Eldorado dos Carajás, no Pará, 19 trabalhadores rurais foram assassinados e mais de cem pessoas ficaram feridas, numa emboscada da Polícia Militar. A ordem para o ataque partiu do governo paraense, numa ação articulada com os fazendeiros da região.

Um dos sem-terra assassinados foi Oziel Alves, de apenas 18 anos que, preso, foi barbaramente torturado até a morte e obrigado a gritar “Viva o MST!”. Reunidas no México naquela mesa data, organizações camponesas de 67 países articuladas na Via Campesina decidiram transformar o dia 17 de abril no Dia Internacional da de Luta Camponesa.

Um ano depois, em abril de 1997, o MST realizou uma caminhada de mil quilômetros rumo a Brasília. Na chegada, o movimento reuniu mais de 100 mil pessoas em um protesto em defesa da Reforma Agrária e pela punição dos responsáveis pelo Massacre de Eldorado dos Carajás.

Desde então, abril também é marcado como o mês em que são intensificadas as lutas por terras pelo MST e também uma forma de camponeses e camponesas se unirem para lembrar a data e homenagear as vítimas do massacre. É o Abril Vermelho.


 Dia 19, 1943 

Dia do Indígena

O 19 de abril foi escolhido como o dia do “índio” no 1º Congresso Indigenista Interamericano, realizado no México em 1940. Nesta data, os indígenas passaram a participar oficialmente no congresso, iniciado dias antes.

O Brasil enviou como representante Roquette-Pinto, que não era indígena. Havia também antropólogo, etnólogo e estudioso de povos indígenas, mas nenhum indígena.

O Dia do Índio foi decretado no Brasil em 1943, pelo então presidente Getúlio Vargas, que exercia o poder de forma ditatorial no chamado Estado Novo.

Muitas controvérsias são importantes de serem discutidas nesse dia. Podemos começar inclusive pela palavra “índio”. Termo que não define e sim, pode inclusive pejorativamente, ter significados como largado, sujo, selvagem, canibal, bugre.

O melhor termo é indígena, que significa “original do lugar”, um “nativo”.

A comemoração dessa data geralmente costuma generalizar a diversidade indígena, desinformando, discriminando e criando uma imagem equivocada, folclórica e distante da realidade dos povos originários.


O que comemorar?

Para os indígenas a sensação é para que comemorar? Ou o que comemorar? Massacre não se comemora. O que vemos é uma grande contradição. De um lado, uma comemoração oriunda de uma data onde se definiu algumas medidas genéricas a serem tomadas em defesa dos povos indígenas, como "respeito à igualdade de direitos e oportunidades para todos os grupos da população da América" e "respeito por valores positivos de sua identidade histórica e cultural”.

Do outro lado vemos ataques constantes do governo federal aos direitos dos povos indígenas, invasão de terras e péssima administração na saúde dos indígenas na pandemia. Além disso, a sociedade vê os povos originários como personagens folclóricos, de histórias antigas e que não evoluíram. O sistema econômico os vêm como improdutivos e que impedem o desenvolvimento do acúmulo de capital.

As questões dos povos originários parecem muito mais um problema do que um tema de valorização e respeito para comemoração.

A próxima edição do Pavio Curto será dedicada aos povos originários e sua luta. Traremos entrevistas, charges e muito conteúdo sobre o tema.


 Dia 21, 1792 

Tiradentes

Em 1789, os mineiros tentaram organizar um movimento pela independência. Foi a Conjuração Mineira. Os revoltosos queriam que sua capitania não dependesse mais de Portugal e comprar produtos de qualquer comerciante, e não apenas dos amigos do rei. Produzir aqui muitos artigos que eram obrigados a importar.

Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, um dos líderes do movimento, foi enforcado no dia 21 e abril de 1789. Sua cabeça ficou exposta em um poste em praça pública, na cidade de Ouro Preto. Hoje, nessa praça, existe uma estátua de Tiradentes.

A classe dominante que matou Tiradentes, mais tarde fez desse dia um feriado nacional. Ela tem medo do povo. Primeiro mata seus líderes, depois levanta estátuas, roubando assim do povo seus próprios símbolos de resistência.