sábado, 26 de junho de 2021

Junho

 Apesar de todos os apelos da sociedade de consumo, ainda não somos descartáveis. Para vivermos o presente e construirmos o futuro, precisamos conhecer nossa história, homenagear nossos mártires, cultivar nossa cultura, valores e tradições de luta. 

A cada edição, o Pavio Curto publicará este calendário apresentando datas e acontecimentos importantes para a classe trabalhadora. Acontecimentos que devem ser estudados e debatidos. Datas que merecem nossa lembrança.

19 – Dia Nacional do Migrante 

O Dia Nacional do Migrante, 19 de junho, reflete sobre as dificuldades enfrentadas por todos aqueles que deixam as suas terras em busca de condições melhores para viver. Além de ser um dia de conscientização sobre os desafios que essas pessoas encontram, a data comemorativa reconhece o papel do migrante na sociedade.


19, 1764 – Nascimento de José Artigas – “Pai da Pátria” uruguaia

José Gervasio Artigas nasceu em 19 de junho de 1764 e faleceu em 23 de setembro de 1850. Foi um dos mais importantes estadistas da Revolução do Rio da Prata, pelo que é honrado também na Argentina por sua contribuição à independência e federalização do país.

Teve uma atuação destacada nas lutas de independência e no predomínio dos ideais republicanos e democráticos sobre a visão monarquista. Lutou sucessivamente contra o Império Espanhol, os unitários instalados na cidade de Buenos Aires e Montevidéu e o Reino Unido de Portugal e Brasil. 

Em abril de 1813, José Artigas inaugura o Congresso Provincial, que afirma a soberania da Província Oriental e formação da Confederação do Prata, nomeando o primeiro governo do Uruguai. O governo de Buenos Aires não aceita e Artigas cerca Montevidéu, sendo considerado fora-da-lei. 

Sob sua direção, foi preparada a Constituição da República Oriental, a mais democrática de sua época, onde era afirmada a igualdade de todos e o povo com fonte de todo o poder. Ao aceitar nas tropas negros escravizados, eles conquistam uma espécie de emancipação, o que não agrada aos proprietários de terras. Preocupados, os latifundiários designam o geral Alvear para derrotar Artigas que, com a ajuda de uma forte tropa, reconquista Montevidéu. Após recuperar a cidade, em 1815, José Artigas é proclamado capitão geral. 

Elabora um regulamento para o desenvolvimento da agricultura, distribuindo terras entre os explorados, incentivando a produção e o consumo coletivo. Dizia que “os despossuídos devem ser agora agraciados”. No entanto, não pode continuar seu projeto: os portugueses invadem Montevidéu, na denominada Guerra contra Artigas ocorrida entre 1816 e 1820, e ele é obrigado a se refugiar nas selvas paraguaias. 

José Artigas liderava um movimento contra o projeto argentino de reconstituição territorial de seu antigo vice-reinado (que constituía parte do Uruguai) e as investidas portuguesas a partir de um projeto expansionista elaborado pela Dinastia de Bragança com o intuito de anexar o Uruguai ao nascente Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves (1816). No âmbito econômico intercontinental, o Uruguai sofria a influência da industrializada Inglaterra.

No ano de 1821, após o exílio de Artigas, o Uruguai é anexado ao Brasil. Por meio de uma aliança entre brasileiros e portugueses, a região é batizada de Província Cisplatina.

No ano de 1825, os brasileiros são expulsos da província pelo líder uruguaio Juan Antonio Lavallejo. Com ajuda de tropas da argentina, Lavallejo proclama a independência do Uruguai. No entanto, o ato só é reconhecido pelos vizinhos três anos mais tarde, através do Tratado de Montevidéu.

Mais tarde, com o estabelecimento de uma república, a política divide-se entre conservadores (blancos) e liberais (colorados). As desavenças entre visões políticas levaram o país a uma Guerra Civil que se estenderia por 12 anos (1839-1851). Artigas morreria em 1850, um ano antes do fim da guerra civil. Contudo, será lembrado como grande patrono do Uruguai.


20 – Dia Mundial do Refugiado

Celebrado em 20 de junho, desde 2001, o Dia Mundial do Refugiado é uma data para a reflexão sobre a situação em que se encontram pessoas forçadas a abandonar seus países de origem devido a perseguições, conflitos armados e crises humanitárias.

21 - Dia de Luta por uma Educação não-sexista e sem discriminação

Proclamado pela Rede de Educação Popular entre Mulheres da América Latina e do Caribe (Repem) com o objetivo de pensar a educação a partir de uma perspectiva do poder, da diferença e da diversidade. 

25 – Dia do Imigrante 

O Dia do Imigrante é comemorado em 25 de junho no Brasil.

A imigração é um fenômeno que ocorre quando há o deslocamento de grupos de indivíduos das regiões / países em que nasceram para terras estrangeiras.

Esta data foi criada para homenagear essas pessoas, que deixam para trás amigos e família em busca de melhores condições de vida.


26 - Dia Internacional de Apoio às Vítimas de Tortura

A data foi instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1997, sendo realizada no mesmo dia em que foi assinada a Convenção contra a Tortura, criada em 26 de junho de 1987, por parte dos Estados-membros da Organização.

O objetivo da data é, além de apoiar as vítimas dessa repulsiva prática, combater a execução de atos de tortura por parte dos órgãos repressivos dos Estados. Segundo Ban Ki-moon, ex- secretário-geral da ONU, em seu discurso referente à data em 2012, “todos os dias, mulheres, homens e crianças são torturadas ou maltratadas com a intenção de destruir sua dignidade e seu sentimento de valor humano. Em alguns casos, isto faz parte de uma política de Estado para fomentar o medo e intimidar a população”.

Nesse sentido, uma das principais ações com a instituição dessa data é criar condições de amparo solidário, material e psicológico às vítimas de torturas e maus-tratos, principalmente através de apelos para que os Estados se prontifiquem a atuar para a erradicação dessa prática.

Apesar de ser combatida, a tortura é praticada em diversos países, inclusive, em alguns casos, ela é aplicada sistematicamente como política repressiva e de investigação. No caso específico da América do Sul, ela foi adotada por todos os regimes comandados por militares durante o século XX.

Um dos principais difusores dessas práticas foram as Forças Armadas do Brasil, que ensinaram diversas técnicas de tortura às demais forças militares estatais da América do Sul, com o objetivo de exterminar as forças políticas opositoras a esses regimes. Atualmente, a tortura ainda é uma medida de obtenção de confissões comumente adotada em delegacias e batalhões militares, principalmente contra pobres e pretos, evidenciando que essa prática ainda não está extinta no país. Pelo contrário, nos últimos anos cresceu um discurso de tolerância a tortura de Estado e de forças paramilitares no Brasil.  

Ilustração Cristovão Villela

26, 1968 – Passeata dos Cem Mil 

A Passeata dos Cem Mil de 26 de junho de 1968 entrou para a História do Brasil como o símbolo máximo da resistência popular à ditadura militar. Em março de 1968, a PM invadiu o restaurante universitário Calabouço, onde estudantes protestavam contra o preço das refeições. No confronto, o comandante da PM, Aloísio Raposo, matou o estudante Edson Luís, de 18 anos, com um tiro no peito. Durante o velório e, sobretudo, na missa do estudante, o Rio de Janeiro pegou fogo. A polícia avançou contra estudantes, padres, jornalistas e populares.

Em 21 de junho, aconteceu a ‘Sexta-feira Sangrenta’. Durante outra manifestação, desta vez na porta do Jornal do Brasil, três pessoas foram mortas, dezenas ficaram feridas e mais de mil foram presas. O gosto de sangue na boca da ditadura ruiu diante da opinião pública. Diante da repercussão negativa do episódio, o governo acabou permitindo nova manifestação estudantil, marcada para o dia 26 de junho. Segundo o comando militar, dez mil policiais estariam prontos para entrar em ação, caso fosse necessário.

Ao meio-dia daquela quarta-feira, dia 26 de junho, a Cinelândia já estava tomada pelo povo, em clima de festa, quando o líder estudantil Vladimir Palmeira começou a discursar. Logo, colunas com milhares de estudantes chegaram à praça. Foram recebidos em delírio pela multidão.  Intelectuais, artistas, professores, religiosos, líderes sindicais, políticos e donas de casa se misturavam à massa. 

Pouco depois das 14 horas, começou a passeata, que tomou a avenida Rio Branco em direção à Presidente Vargas. Os manifestantes caminharam pelas ruas do centro do Rio, gritando slogans como “Abaixo a ditadura”, “O povo organizado derruba a ditadura”, “Libertem nossos presos” e “Abaixo o MEC-Usaid”. Diante das lojas fechadas, os estudantes pediam: “Abram suas portas; quem quebra é a polícia”. Os comerciantes, ao atender aos apelos, eram saudados com aplausos. Dos prédios, chovia papel picado e eram acenados lenços brancos em apoio à manifestação.

Braços dados, rostos tensos e vozes alteradas, os maiores expoentes da vida artística nacional se colocaram na linha de frente, arrastando o povo. Eva Wilma, Nara Leão, Marieta Severo, Clarice Lispector, Norma Benguell, Nana Caymmi, Tônia Carrero, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Paulo Autran, Edu Lobo e Othon Bastos gritavam palavras de ordem. 

Depois de passar pela Candelária e Campo de Santana, a passeata terminou em frente ao Palácio Tiradentes, próximo à Praça XV. Ao final, uma bandeira dos EUA foi queimada e o povo foi para casa. Movimento parecido como aquele só foi visto 16 anos mais tarde no comício pelas Diretas Já. 


28 – Dia Internacional do Orgulho LGBT+

No dia 28 de junho comemora-se em todo o mundo o Dia Internacional do Orgulho LGBT+. A data tem o principal objetivo de conscientizar a população sobre a importância do combate à homofobia e a transfobia para a construção de uma sociedade livre de preconceitos independente da orientação afetivo sexual. 

É uma luta incansável por direitos, respeito e contra os obstáculos impostos por uma sociedade civil majoritariamente preconceituosa e um governo alicerçado em ideais arcaicos e patriarcais. Em junho de 2019, o Brasil teve uma importante conquista na luta LGBT+ com a criminalização de atos de homofobia e transfobia pelo Supremo Tribunal Federal. 

O Brasil é um dos países que mais discrimina e mata pessoas LGBTs no mundo. De acordo com o relatório da Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros e Intersexuais (ILGA), o Brasil ocupa o primeiro lugar nas Américas em quantidade de homicídios de pessoas LGBTs e também é o líder em assassinato de pessoas trans no mundo.

De acordo com dados do Grupo Gay da Bahia (GGB), a cada 19 horas, uma pessoa LGBT+ é morta no país. Segundo a Rede Trans Brasil, a cada 26 horas, aproximadamente, uma pessoa trans é assassinada no país. A expectativa de vida dessas pessoas é de 35 anos

Segundo o relatório “Observatório das Mortes Violentas de LGBT+ No Brasil – 2020”, realizado pelo Grupo Gay da Bahia e pela Acontece Arte e Política LGBT+, de Florianópolis, pelo menos 237 pessoas morreram por conta da violência LGBTfóbica no ano passado. Sendo que 224 foram homicídios (94,5%) e 13 suicídios (5,5%).

Os dados mostram que das 237 pessoas que morreram em 2020, 161 eram travestis e trans (70%), 51 eram gays (22%), 10 eram lésbicas (5%), 3 eram homens trans (1%), 3 eram bissexuais (1%) e 2 eram heterossexuais que foram confundidos com gays (0,4%).

O Dia Internacional do Orgulho LGBT+ marca um episódio que aconteceu em 1969, em Nova York, quando frequentadores do bar Stonewall Inn reagiram a uma série de batidas policiais realizadas com frequência no local e motivadas pela intolerância. No ano seguinte, 28 de junho foi escolhido para ser o dia da primeira Parada Gay, nos Estados Unidos, o que inspirou outras mobilizações mundo afora, sob a bandeira da luta contra o preconceito.



Referências: 

Calendário Histórico dos Trabalhadores – MST, 1998; Diário da Causa Operária, 19/06/2020.; Calendarr Brasil/CalendárioFeminista