sábado, 26 de junho de 2021

Junho

 Apesar de todos os apelos da sociedade de consumo, ainda não somos descartáveis. Para vivermos o presente e construirmos o futuro, precisamos conhecer nossa história, homenagear nossos mártires, cultivar nossa cultura, valores e tradições de luta. 

A cada edição, o Pavio Curto publicará este calendário apresentando datas e acontecimentos importantes para a classe trabalhadora. Acontecimentos que devem ser estudados e debatidos. Datas que merecem nossa lembrança.

19 – Dia Nacional do Migrante 

O Dia Nacional do Migrante, 19 de junho, reflete sobre as dificuldades enfrentadas por todos aqueles que deixam as suas terras em busca de condições melhores para viver. Além de ser um dia de conscientização sobre os desafios que essas pessoas encontram, a data comemorativa reconhece o papel do migrante na sociedade.


19, 1764 – Nascimento de José Artigas – “Pai da Pátria” uruguaia

José Gervasio Artigas nasceu em 19 de junho de 1764 e faleceu em 23 de setembro de 1850. Foi um dos mais importantes estadistas da Revolução do Rio da Prata, pelo que é honrado também na Argentina por sua contribuição à independência e federalização do país.

Teve uma atuação destacada nas lutas de independência e no predomínio dos ideais republicanos e democráticos sobre a visão monarquista. Lutou sucessivamente contra o Império Espanhol, os unitários instalados na cidade de Buenos Aires e Montevidéu e o Reino Unido de Portugal e Brasil. 

Em abril de 1813, José Artigas inaugura o Congresso Provincial, que afirma a soberania da Província Oriental e formação da Confederação do Prata, nomeando o primeiro governo do Uruguai. O governo de Buenos Aires não aceita e Artigas cerca Montevidéu, sendo considerado fora-da-lei. 

Sob sua direção, foi preparada a Constituição da República Oriental, a mais democrática de sua época, onde era afirmada a igualdade de todos e o povo com fonte de todo o poder. Ao aceitar nas tropas negros escravizados, eles conquistam uma espécie de emancipação, o que não agrada aos proprietários de terras. Preocupados, os latifundiários designam o geral Alvear para derrotar Artigas que, com a ajuda de uma forte tropa, reconquista Montevidéu. Após recuperar a cidade, em 1815, José Artigas é proclamado capitão geral. 

Elabora um regulamento para o desenvolvimento da agricultura, distribuindo terras entre os explorados, incentivando a produção e o consumo coletivo. Dizia que “os despossuídos devem ser agora agraciados”. No entanto, não pode continuar seu projeto: os portugueses invadem Montevidéu, na denominada Guerra contra Artigas ocorrida entre 1816 e 1820, e ele é obrigado a se refugiar nas selvas paraguaias. 

José Artigas liderava um movimento contra o projeto argentino de reconstituição territorial de seu antigo vice-reinado (que constituía parte do Uruguai) e as investidas portuguesas a partir de um projeto expansionista elaborado pela Dinastia de Bragança com o intuito de anexar o Uruguai ao nascente Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves (1816). No âmbito econômico intercontinental, o Uruguai sofria a influência da industrializada Inglaterra.

No ano de 1821, após o exílio de Artigas, o Uruguai é anexado ao Brasil. Por meio de uma aliança entre brasileiros e portugueses, a região é batizada de Província Cisplatina.

No ano de 1825, os brasileiros são expulsos da província pelo líder uruguaio Juan Antonio Lavallejo. Com ajuda de tropas da argentina, Lavallejo proclama a independência do Uruguai. No entanto, o ato só é reconhecido pelos vizinhos três anos mais tarde, através do Tratado de Montevidéu.

Mais tarde, com o estabelecimento de uma república, a política divide-se entre conservadores (blancos) e liberais (colorados). As desavenças entre visões políticas levaram o país a uma Guerra Civil que se estenderia por 12 anos (1839-1851). Artigas morreria em 1850, um ano antes do fim da guerra civil. Contudo, será lembrado como grande patrono do Uruguai.


20 – Dia Mundial do Refugiado

Celebrado em 20 de junho, desde 2001, o Dia Mundial do Refugiado é uma data para a reflexão sobre a situação em que se encontram pessoas forçadas a abandonar seus países de origem devido a perseguições, conflitos armados e crises humanitárias.

21 - Dia de Luta por uma Educação não-sexista e sem discriminação

Proclamado pela Rede de Educação Popular entre Mulheres da América Latina e do Caribe (Repem) com o objetivo de pensar a educação a partir de uma perspectiva do poder, da diferença e da diversidade. 

25 – Dia do Imigrante 

O Dia do Imigrante é comemorado em 25 de junho no Brasil.

A imigração é um fenômeno que ocorre quando há o deslocamento de grupos de indivíduos das regiões / países em que nasceram para terras estrangeiras.

Esta data foi criada para homenagear essas pessoas, que deixam para trás amigos e família em busca de melhores condições de vida.


26 - Dia Internacional de Apoio às Vítimas de Tortura

A data foi instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1997, sendo realizada no mesmo dia em que foi assinada a Convenção contra a Tortura, criada em 26 de junho de 1987, por parte dos Estados-membros da Organização.

O objetivo da data é, além de apoiar as vítimas dessa repulsiva prática, combater a execução de atos de tortura por parte dos órgãos repressivos dos Estados. Segundo Ban Ki-moon, ex- secretário-geral da ONU, em seu discurso referente à data em 2012, “todos os dias, mulheres, homens e crianças são torturadas ou maltratadas com a intenção de destruir sua dignidade e seu sentimento de valor humano. Em alguns casos, isto faz parte de uma política de Estado para fomentar o medo e intimidar a população”.

Nesse sentido, uma das principais ações com a instituição dessa data é criar condições de amparo solidário, material e psicológico às vítimas de torturas e maus-tratos, principalmente através de apelos para que os Estados se prontifiquem a atuar para a erradicação dessa prática.

Apesar de ser combatida, a tortura é praticada em diversos países, inclusive, em alguns casos, ela é aplicada sistematicamente como política repressiva e de investigação. No caso específico da América do Sul, ela foi adotada por todos os regimes comandados por militares durante o século XX.

Um dos principais difusores dessas práticas foram as Forças Armadas do Brasil, que ensinaram diversas técnicas de tortura às demais forças militares estatais da América do Sul, com o objetivo de exterminar as forças políticas opositoras a esses regimes. Atualmente, a tortura ainda é uma medida de obtenção de confissões comumente adotada em delegacias e batalhões militares, principalmente contra pobres e pretos, evidenciando que essa prática ainda não está extinta no país. Pelo contrário, nos últimos anos cresceu um discurso de tolerância a tortura de Estado e de forças paramilitares no Brasil.  

Ilustração Cristovão Villela

26, 1968 – Passeata dos Cem Mil 

A Passeata dos Cem Mil de 26 de junho de 1968 entrou para a História do Brasil como o símbolo máximo da resistência popular à ditadura militar. Em março de 1968, a PM invadiu o restaurante universitário Calabouço, onde estudantes protestavam contra o preço das refeições. No confronto, o comandante da PM, Aloísio Raposo, matou o estudante Edson Luís, de 18 anos, com um tiro no peito. Durante o velório e, sobretudo, na missa do estudante, o Rio de Janeiro pegou fogo. A polícia avançou contra estudantes, padres, jornalistas e populares.

Em 21 de junho, aconteceu a ‘Sexta-feira Sangrenta’. Durante outra manifestação, desta vez na porta do Jornal do Brasil, três pessoas foram mortas, dezenas ficaram feridas e mais de mil foram presas. O gosto de sangue na boca da ditadura ruiu diante da opinião pública. Diante da repercussão negativa do episódio, o governo acabou permitindo nova manifestação estudantil, marcada para o dia 26 de junho. Segundo o comando militar, dez mil policiais estariam prontos para entrar em ação, caso fosse necessário.

Ao meio-dia daquela quarta-feira, dia 26 de junho, a Cinelândia já estava tomada pelo povo, em clima de festa, quando o líder estudantil Vladimir Palmeira começou a discursar. Logo, colunas com milhares de estudantes chegaram à praça. Foram recebidos em delírio pela multidão.  Intelectuais, artistas, professores, religiosos, líderes sindicais, políticos e donas de casa se misturavam à massa. 

Pouco depois das 14 horas, começou a passeata, que tomou a avenida Rio Branco em direção à Presidente Vargas. Os manifestantes caminharam pelas ruas do centro do Rio, gritando slogans como “Abaixo a ditadura”, “O povo organizado derruba a ditadura”, “Libertem nossos presos” e “Abaixo o MEC-Usaid”. Diante das lojas fechadas, os estudantes pediam: “Abram suas portas; quem quebra é a polícia”. Os comerciantes, ao atender aos apelos, eram saudados com aplausos. Dos prédios, chovia papel picado e eram acenados lenços brancos em apoio à manifestação.

Braços dados, rostos tensos e vozes alteradas, os maiores expoentes da vida artística nacional se colocaram na linha de frente, arrastando o povo. Eva Wilma, Nara Leão, Marieta Severo, Clarice Lispector, Norma Benguell, Nana Caymmi, Tônia Carrero, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Paulo Autran, Edu Lobo e Othon Bastos gritavam palavras de ordem. 

Depois de passar pela Candelária e Campo de Santana, a passeata terminou em frente ao Palácio Tiradentes, próximo à Praça XV. Ao final, uma bandeira dos EUA foi queimada e o povo foi para casa. Movimento parecido como aquele só foi visto 16 anos mais tarde no comício pelas Diretas Já. 


28 – Dia Internacional do Orgulho LGBT+

No dia 28 de junho comemora-se em todo o mundo o Dia Internacional do Orgulho LGBT+. A data tem o principal objetivo de conscientizar a população sobre a importância do combate à homofobia e a transfobia para a construção de uma sociedade livre de preconceitos independente da orientação afetivo sexual. 

É uma luta incansável por direitos, respeito e contra os obstáculos impostos por uma sociedade civil majoritariamente preconceituosa e um governo alicerçado em ideais arcaicos e patriarcais. Em junho de 2019, o Brasil teve uma importante conquista na luta LGBT+ com a criminalização de atos de homofobia e transfobia pelo Supremo Tribunal Federal. 

O Brasil é um dos países que mais discrimina e mata pessoas LGBTs no mundo. De acordo com o relatório da Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros e Intersexuais (ILGA), o Brasil ocupa o primeiro lugar nas Américas em quantidade de homicídios de pessoas LGBTs e também é o líder em assassinato de pessoas trans no mundo.

De acordo com dados do Grupo Gay da Bahia (GGB), a cada 19 horas, uma pessoa LGBT+ é morta no país. Segundo a Rede Trans Brasil, a cada 26 horas, aproximadamente, uma pessoa trans é assassinada no país. A expectativa de vida dessas pessoas é de 35 anos

Segundo o relatório “Observatório das Mortes Violentas de LGBT+ No Brasil – 2020”, realizado pelo Grupo Gay da Bahia e pela Acontece Arte e Política LGBT+, de Florianópolis, pelo menos 237 pessoas morreram por conta da violência LGBTfóbica no ano passado. Sendo que 224 foram homicídios (94,5%) e 13 suicídios (5,5%).

Os dados mostram que das 237 pessoas que morreram em 2020, 161 eram travestis e trans (70%), 51 eram gays (22%), 10 eram lésbicas (5%), 3 eram homens trans (1%), 3 eram bissexuais (1%) e 2 eram heterossexuais que foram confundidos com gays (0,4%).

O Dia Internacional do Orgulho LGBT+ marca um episódio que aconteceu em 1969, em Nova York, quando frequentadores do bar Stonewall Inn reagiram a uma série de batidas policiais realizadas com frequência no local e motivadas pela intolerância. No ano seguinte, 28 de junho foi escolhido para ser o dia da primeira Parada Gay, nos Estados Unidos, o que inspirou outras mobilizações mundo afora, sob a bandeira da luta contra o preconceito.



Referências: 

Calendário Histórico dos Trabalhadores – MST, 1998; Diário da Causa Operária, 19/06/2020.; Calendarr Brasil/CalendárioFeminista 



domingo, 30 de maio de 2021

Junho

Apesar de todos os apelos da sociedade de consumo, ainda não somos descartáveis. Para vivermos o presente e construirmos o futuro, precisamos conhecer nossa história, homenagear nossos mártires, cultivar nossa cultura, valores e tradições de luta. 

A cada edição, o Pavio Curto publicará este calendário apresentando datas e acontecimentos importantes para a classe trabalhadora. Acontecimentos que devem ser estudados e debatidos. Datas que merecem nossa lembrança.


 Dia 1º – Dia da Imprensa 

No Brasil, o Dia da Imprensa se comemorava, até 1999, no dia 10 de setembro, por ser a data da primeira circulação do jornal Gazeta do Rio de Janeiro, em 1808, periódico da Corte. Em 1999, a comemoração do Dia da Imprensa mudou de data e passou a ser celebrado em 1º de junho, data em começou a circular o jornal Correio Braziliense, fundado por Hipólito José da Costa, considerado o patrono da Imprensa brasileira. 

Este periódico iniciou suas publicações em 1808, mas era um jornal clandestino e começou a circular cerca de três meses antes. Exilado na Inglaterra, Hipólito da Costa imprime o Correio Braziliense em Londres, sendo o primeiro jornal em língua portuguesa a circular e tratar do Brasil. O nome obedece ao vocabulário da época: Brazileiro = português ou qualquer estrangeiro que vinha morar no Brasil; Braziliano = indígena; Braziliense = natural do Brasil. 

Durante 14 anos, jornal veio todos os meses para o Brasil de navio. De tiragem mensal, tinha entre 100 e 150 páginas e era lido essencialmente por comerciantes interessados em fazer negócios com Portugal ou sua colônia. A publicação se dividia em quatro seções – política, comércio e artes, literatura e ciências e miscelânea – e era extremamente crítica ao governo português. À distância, opunha-se ao poder absoluto e propunha uma monarquia constitucional. Circulou até dezembro de 1822, publicando 175 edições. Um jornal dos Diários Associados em Brasília assume o nome Correio Braziliense em 1960, quando a capital federal foi fundada.

 Dia 05 – Dia Mundial do Meio Ambiente 



Em 1972, na Assembleia Geral das Nações Unidas, foi criado o Dia Mundial do Meio Ambiente. A data marcou a abertura da Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, evento que ficou conhecido como Conferência de Estocolmo.

Nela, foi aprovada a Declaração da Conferência da ONU sobre o Meio Ambiente, que define princípios que visam à melhoria da preservação do planeta. 

O avanço tecnológico, social e econômico capitalista está intimamente ligado a degradação do meio ambiente.  O planeta foi explorado de maneira predatória, na tentativa de gerar benefícios à sociedade humana. Os recursos eram vistos como inesgotáveis. A ideia de que a natureza existe para servir ao ser humano contribui para a degradação ambiental que temos hoje. 

Os povos originários que buscam uma relação de troca e se sentem parte do meio ambiente são tão atacados e desrespeitados como o próprio lugar em que vivem. Representam um impedimento nas estratégias de exploração, nas quais o crescimento econômico tem mais valor que os recursos naturais – como água, florestas, solo e árvores.

A data busca estimular a postura crítica e ativa em relação aos problemas ambientais do planeta. A necessidade de valorização dos costumes dos originários, proteção e equilíbrio da natureza por meio do resgate da preocupação ambiental com nossa flora, fauna e povos das florestas são questões de sobrevivência da nossa espécie. Nossa vida depende de escolhas que fazemos hoje no nosso dia a dia.

 12 - Dia Mundial de Combate ao Trabalho Infantil 

O Dia Mundial de Combate ao Trabalho Infantil foi instituído pela OIT em 2002, ano da apresentação do primeiro relatório global sobre o trabalho infantil na Conferência Internacional do Trabalho. No Brasil, o 12 de junho foi instituído como Dia Nacional de Combate ao Trabalho Infantil pela Lei Nº 11.542/2007.

Mesmo proibido pela Constituição, o trabalho infantil atinge 2,4 milhões de meninos e meninas entre 5 e 17 anos, em grandes, médias e pequenas cidades. Em muitos casos, são vendedores ambulantes, mas há também aqueles que vivem sua rotina na lavoura ou até mesmo na mineração. Em 2019, foram registradas 86 mil denúncias de violações a direitos humanos que tinham como vítimas crianças e adolescentes. Deste total, 4 mil se referiam a trabalho infantil.

Não bastassem os números preocupantes, todos os dias lidamos com mitos e impropérios, ditos que se ‘consagram’ entre padarias e pontos de ônibus, entre esquinas e calçadas Brasil afora. Um deles diz que “trabalhar não mata ninguém”, o que não é verdade. Muitas vezes, o trabalho infantil tem como consequência acidentes que resultam na morte de crianças e adolescentes todos os dias. Outro mito diz que “é melhor trabalhar do que roubar”, como se houvesse uma relação de dualidade ou simples escolha. 

Não incentive o trabalho infantil! Lugar de criança é na escola!

 Dia 14 - Nascimento de Che Guevara (1928) 


Ernesto Guevara de La Serna, o Che, nasceu na Argentina, na província de Rosário, em 14 de junho de 1928. Mesmo sofrendo de asma, foi um menino que se destacava pela força de vontade, pelo espírito de autossuperação, pela capacidade de liderança, pela perseverança, pela sua atitude de querer saber mais a fundo as coisas e pelo seu espírito de solidariedade.

Em julho de 1955, Che conheceu Fidel Castro, que estava no México preparando um grupo de revolucionários para ir a Cuba tentar derrubar a ditadura de Fulgêncio Batista. Bastou uma noite de conversa para Guevara se transformar em um dos futuros expedicionários. Em 1º de janeiro de 1959, triunfou a Revolução Cubana, da qual Che foi um destacado comandante.

Sem se apegar a sua pátria, ele dedicou sua vida a luta pela libertação dos trabalhadores. Primeiro em Cuba, depois no Congo e finalmente na Bolívia, onde foi assassinado em 8 de outubro de 1967, a mando dos imperialistas estadunidenses. 

Alguns dos pensamentos de Che Guevara:

“Sentir profundamente qualquer injustiça cometida, contra qualquer pessoa em qualquer parte do mundo, é a qualidade mais bela de um revolucionário.”

“Que culpa tenho eu, se meu sangue é vermelho e meu coração é de esquerda?”

“Hay que endurecerse pero sin perder la ternura jamais.”

“Se você é capaz de tremer de indignação a cada vez que se comete uma injustiça no mundo, então somos companheiros.”

“Deixe-me dizer-lhe, correndo o risco de parecer ridículo, que o verdadeiro revolucionário é guiado por grandes sentimentos de amor.”

“Até a vitória, sempre!”


Referência: 

Calendário Histórico dos Trabalhadores – MST, 1998

quinta-feira, 13 de maio de 2021

Maio

Apesar de todos os apelos da sociedade de consumo, ainda não somos descartáveis. Para vivermos o presente e construirmos o futuro, precisamos conhecer nossa História, homenagear nossos mártires, cultivar nossa cultura, valores e tradições de luta. 

A cada edição, o Pavio Curto publicará este calendário apresentando datas e acontecimentos importantes para a classe trabalhadora. Acontecimentos que devem ser estudados e debatidos. Datas que merecem nossa lembrança. 

15, 1992

Fundação da Confederação das Cooperativas de Reforma Agrária do Brasil (CONCRAB) 

O Movimento dos Sem Terra (MST) sempre estimulou as atividades coletivas como principal forma de enfrentar os problemas de produção e comercialização nos assentamentos. Como frutos deste trabalho surgiram Grupos Coletivos, Associações e Cooperativas de Produção Agropecuária. 

O Sistema Cooperativista dos Assentamentos é a organização do Setor de Produção e Comercialização do MST. Ele cuida dos assuntos da produção, comercialização, tecnologia, agroindústria, crédito rural e da organização de base. Esse setor surgiu em 1990 para estimular todas as formas de cooperação agrícola dentro dos assentamentos, integrando também os assentamentos individuais.

Em 15 de maio de 1992, numa histórica assembleia com representantes de cooperativas de dez estados brasileiros, foi fundada, em Curitiba (PR), a Confederação das Cooperativas de Reforma Agrária do Brasil (CONCRAB). Entre os seus objetivos estão: articular políticas de desenvolvimento agropecuário das cooperativas e assentamentos; organizar escolas técnicas nas áreas administrativa, financeira e agronômica; estudar o mercado e possibilidades de instalação de agroindústrias; e viabilizar atividades de exportação e importação. 


17

Dia Internacional Contra a Homofobia

O Dia Internacional Contra a Homofobia é celebrado anualmente em 17 de maio.

Também é conhecido como “Dia Internacional de Luta Contra a Homofobia, Transfobia e Bifobia”, pois visa conscientizar a população em geral sobre a luta contra a discriminação dos homossexuais, transexuais e transgêneros.

A homofobia consiste no ódio e repulsa pelo público LGBTQIA + e a luta para combater tanta violência e intolerância se torna pauta fundamental para que possamos formar uma sociedade que esteja baseada no respeito à diversidade, independente de sua orientação afetivo sexual ou identidade de gênero. 

O Dia Internacional Contra a Homofobia (International Day Against Homophobia, em inglês) é comemorado em 17 de maio em memória à data em que o termo “homossexualismo” passou a ser desconsiderado. Na mesma ocasião, em 1990, a homossexualidade foi excluída da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID), da Organização Mundial da Saúde (OMS), onde era considerada transtorno ou desvio. 

No Brasil, esta data está incluída no calendário oficial do país desde 2010, de acordo com o decreto de 4 de junho desse ano.

Importante destacar que o objetivo desta data é debater os mais variados tipos de preconceitos contra as diferentes orientações afetivo sexuais e identidades de gênero, além de gerar o desenvolvimento de uma conscientização civil sobre a importância da criminalização da homofobia.

Esta data é um momento importante para a organização de atividades que promovam e apoiem a igualdade de direitos dos homossexuais e da comunidade LGBTQIA +.


18

Dia da Luta Antimanicomial



Por Jamila Zgiet – convidada do Pavio Curto

Engana-se quem pensa que a luta antimanicomial diz respeito somente à extinção dos hospícios e das formas cruéis de tratamento em saúde mental. Pensar de forma não manicomial tem a ver com agir sem preconceitos, respeitar individualidades, identificar e cuidar do sofrimento que afeta o outro.

A Psiquiatria, embora possa contribuir muito para o alívio das dores da alma por meio da Química, ao longo da História foi responsável pelo aprisionamento dos sujeitos ditos loucos. A instituição psiquiátrica foi local de punição e prisões políticas. A extinta Liga Brasileira de Higiene Mental tinha princípios nazistas, defendendo a eugenia e conferindo cientificidade a posicionamentos retrógrados e preconceituosos. Não por acaso, atualmente órgãos de classe da categoria médica são capazes de ignorar estudos que rejeitam o uso da famigerada hidroxicloroquina ou da ivermectina no combate à Covid-19, mantendo-se “isentões” ou tranquilamente defendendo o atual Governo Federal e sua ausência de medidas contra o vírus.

Ora, se a razão é a econômica e, por ela, vê-se como natural a morte de meio milhão de pessoas em um ano por uma doença para a qual já há vacina, talvez devamos considerar o que a “desrazão” tem a dizer! Se as mentes sãs e arrazoadas promovem violências gratuitas contra populações pobres e negras e encontram motivos em frases feitas e cheias de ódio, talvez os loucos nos deem alguma dica do que fazer. Um famoso louco ensinava: “gentileza gera gentileza”. Outro insistia: “viva a sociedade alternativa”.

A luta antimanicomial tem a ver com libertar corpos e mentes. É derrubar muros, mas também construir pontes, desnudar os moralismos em que somos imersos. Só seremos capazes de vencer os retrocessos da razão burguesa dando ouvidos aos loucos em vez de votos aos maus.


19, 1895

José Martí: líder da independência cubana




Nascido em Havana, filho de pais espanhóis e entregue ao ideal de liberdade desde a adolescência, José Martí é um dos mártires da história cubana. Dono de grande sensibilidade poética e retórica, teve seu pensamento político influenciado por experiências vividas na Europa, nos Estados Unidos e também em países latinoamericanos. 


Fundador do Partido Revolucionário Cubano, que reuniu compatriotas que tinham a mesma veia libertadora, participou ativamente da articulação política para a Guerra Necessária, contra o domínio espanhol. O confronto teve início em 1895. Martí acabou morto em combate no dia 19 de maio, enquanto comandava a luta nas proximidades do vilarejo de Dos Ríos, na parte leste da ilha.


Pioneiro na luta antiimperialista, Martí deixou como legado extensa produção literária, com discursos, ensaios, poesias e peças de teatro. Depois de ser assassinado, seu corpo foi mutilado pelos soldados espanhóis e exibido à população por uma semana antes de ser sepultado, em Santiago de Cuba. Atualmente, o Aeroporto Internacionalde Havana leva o seu nome.



27

Dia da Mata Atlântica

Certamente você já ouviu um argumento sobre a pressão internacional pela preservação do meio ambiente que diz mais ou menos o seguinte: “Esse pessoal estrangeiro só quer preservar nossa floresta porque a deles já foi totalmente desmatada. Aqui a gente cuida da natureza, sim”. Não é bem assim, e o Brasil não é exemplo de consciência ambiental.

Considerado pela WWF Brasil como o bioma mais degradado de nosso país, a Mata Atlântica atualmente conta com somente 12,4% da sua área original de floresta. 

Ela está presente em 15% do território brasileiro, em grande parte na área costeira dos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe, e se estende pelos vizinhos Argentina e Paraguai. 

O desmatamento cresceu 27,2% em 2018/2019, com o afrouxamento das leis de proteção da Mata Atlântica pelo ministro Ricardo Salles. O Despacho 4410/2020, por exemplo, permite que proprietários rurais não recuperem áreas desmatadas, ameaçando espécies como a onça-pintada. Se alguma medida efetiva não for tomada nos próximos anos, gerações futuras correm o risco de conhecer a biodiversidade somente pelos livros de História.



Referências: 

Calendário Histórico dos Trabalhadores – MST, 1998

Referências

  • Breve História de Cuba 

  • josemarti.cu

sexta-feira, 30 de abril de 2021

MAIO

Apesar de todos os apelos da sociedade de consumo, ainda não somos descartáveis. Para vivermos o presente e construirmos o futuro, precisamos conhecer nossa história, homenagear nossos mártires, cultivar nossa cultura, valores e tradições de luta.

A cada edição, o Pavio Curto publicará este calendário apresentando datas e acontecimentos importantes para a classe trabalhadora. Acontecimentos que devem ser estudados e debatidos. Datas que merecem nossa lembrança.


 Dia 5, 1818 

Nascimento de Karl Marx

Karl Marx nasceu em 5 de maio de 1818 em Trier, Alemanha, filho de Heinrich e Henrietta Marx. Nascido em uma família de classe média, Marx tinha oito irmãos, sendo que cinco morreram ainda jovens. Em outubro de 1835, com 17 anos, ingressou na Faculdade de Direito da Universidade de Bonn. Em 1836, seu pai transferiu-o para a Universidade de Berlim, a maior da Alemanha.



Em 1842, Marx começou a trabalhar como jornalista. Seu primeiro artigo, “Comentários sobre a última Instrução sobre a Censura”, foi censurado pelas autoridades. Em outubro de 1842, assumiu a direção da Gazeta Renana, de Colônia. Logo, a circulação do jornal dobrou, adquirindo influência e expressão nacional devido aos incisivos artigos de Marx. Em janeiro de 1843, o governo prussiano decidiu fechar o jornal, após meses de censura implacável. A última edição foi publicada em 31 de março.

Depois de constantes perseguições dos governos por onde passou, Marx viajou para Paris, onde estabeleceu contato com diversos grupos de trabalhadores alemães. Lá, tornou-se comunista convicto e começou a registrar suas ideias e novas concepções em uma série de escritos.

Na Conferência da Liga, em 1847, Marx e Engels receberam a incumbência de escrever um manifesto que fosse a expressão clara de todas as ideias e concepções comunistas. Logo após a publicação desse documento, o Manifesto Comunista, uma onda de revoluções varreu a Europa. Em 1849, voltou a Paris, de onde foi expulso durante as manifestações populares daquele ano. De lá, exilou-se em Londres, onde levou uma vida modesta ajudado pelo seu amigo Engels. Em 1867, seu principal livro, O Capital, foi publicado. Nele, Marx desenvolve sua teoria sobre o valor do trabalho, a mais valia e a exploração. Dedicou ainda grande parte do seu tempo à construção da Internacional Comunista, atuando de maneira incansável na preparação de seus congressos anuais. Marx morreu em 14 de março de 1883, em Londres.

Logo após sua morte, Engels, grande amigo e compartilhador das ideias de Marx, publicou grande parte das suas obras. Cientista social, historiador, jornalista e militante revolucionário, Marx foi sem dúvida o pensador socialista que maior influência exerceu sobre a humanidade.


 Dia 13, 1888 

Lei da Abolição da Escravatura

Entre 1521 e 1859, mais de 6 milhões de negros africanos foram escravizados e trazidos à força para o Brasil. No início do século XIX, estava claro que não seria possível manter por muitos anos a escravidão. Os ideais da Revolução Francesa (1789) – “igualdade, liberdade e fraternidade” – ganhavam cada vez mais adeptos, inclusive no Brasil. E mais importante: o nascente capitalismo estava provando, na prática, que o trabalho assalariado rendia muito mais.

Após muita pressão da Inglaterra, maior potência econômica mundial da época, o Brasil foi o último país do mundo a abolir a escravidão. Como sempre, o conservadorismo das nossas elites retardou ao máximo a decisão. Na região do Vale do Paraíba fluminense, inclusive, vários fazendeiros resistiram à Lei Áurea, assinada pela princesa Isabel em 13 de maio de 1988.

Na época, mais de 90% dos escravizados já estavam libertos. A Vila de Acaraté, no Ceará, foi a primeira localidade brasileira a acabar com a escravidão, em 1882. Em 1884, os escravizados foram libertados em todo o estado do Ceará e também no Amazonas.

Sem-terra, sem dinheiro, sem ter onde trabalhar, os negros foram aos milhares para as cidades do Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo e outras. Sem conhecer o funcionamento da vida da cidade e sem experiência de trabalho em fábrica, eles acabaram ficando com os piores empregos. Foi essa herança que receberam depois de terem trabalhado 300 anos produzindo riquezas para os senhores de engenho, fazendeiros e donos da minas de ouro, todos amigos de Portugal.

Passados mais de 120 anos da abolição da escravatura, os negros continuam sendo discriminados nas escolas, nos empregos, nos ônibus, nas ruas, nos salários, na TV, e perseguidos pela polícia.



Referências:

Calendário Histórico dos Trabalhadores – MST, 1998

Almanaque Brasil – Editora Terceiro Milênio – 2000


Palavras para Glossário: Sociedade de consumo, comunista, manifesto, capital, mais valia, socialista, capitalismo, conservadorismo, elites.

sábado, 10 de abril de 2021

ABRIL

Apesar de todos os apelos da sociedade de consumo, ainda não somos descartáveis. Para vivermos o presente e construirmos o futuro, precisamos conhecer nossa história, homenagear nossos mártires, cultivar nossa cultura, valores e tradições de luta.

A cada edição, o Pavio Curto publicará este calendário apresentando datas e acontecimentos importantes para a classe trabalhadora. Acontecimentos que devem ser estudados e debatidos. Datas que merecem nossa lembrança.


 De 15 a 20/04, 1906 

1º Congresso Operário do Brasil (RJ)

No início do século XX, instalaram-se as primeiras fábricas no Brasil, dando origem ao operariado industrial. O nascente movimento operário brasileiro recebeu grande influência das ideias anarquistas, atraídas pelos migrantes europeus.

O 1º Congresso Operário do Brasil, realizado em 1906 no Rio de Janeiro, deu origem à Conferência Operária Brasileira, à COB, fundada em 1908, primeira organização operária de caráter nacional do país.

Participaram 43 delegados representantes de 28 organizações operárias de vários estados brasileiros. O programa de lutas aprovado no Congresso, tinha, entre outras propostas: redução da jornada de trabalho, estímulo à sindicalização, regulamentação do trabalho e liberdade de reunião.


 Dia 17, 1996 

Dia Internacional da Luta Camponesa

No dia 17 de abril de 1996, durante a Marcha por Emprego e Reforma Agrária, em Eldorado dos Carajás, no Pará, 19 trabalhadores rurais foram assassinados e mais de cem pessoas ficaram feridas, numa emboscada da Polícia Militar. A ordem para o ataque partiu do governo paraense, numa ação articulada com os fazendeiros da região.

Um dos sem-terra assassinados foi Oziel Alves, de apenas 18 anos que, preso, foi barbaramente torturado até a morte e obrigado a gritar “Viva o MST!”. Reunidas no México naquela mesa data, organizações camponesas de 67 países articuladas na Via Campesina decidiram transformar o dia 17 de abril no Dia Internacional da de Luta Camponesa.

Um ano depois, em abril de 1997, o MST realizou uma caminhada de mil quilômetros rumo a Brasília. Na chegada, o movimento reuniu mais de 100 mil pessoas em um protesto em defesa da Reforma Agrária e pela punição dos responsáveis pelo Massacre de Eldorado dos Carajás.

Desde então, abril também é marcado como o mês em que são intensificadas as lutas por terras pelo MST e também uma forma de camponeses e camponesas se unirem para lembrar a data e homenagear as vítimas do massacre. É o Abril Vermelho.


 Dia 19, 1943 

Dia do Indígena

O 19 de abril foi escolhido como o dia do “índio” no 1º Congresso Indigenista Interamericano, realizado no México em 1940. Nesta data, os indígenas passaram a participar oficialmente no congresso, iniciado dias antes.

O Brasil enviou como representante Roquette-Pinto, que não era indígena. Havia também antropólogo, etnólogo e estudioso de povos indígenas, mas nenhum indígena.

O Dia do Índio foi decretado no Brasil em 1943, pelo então presidente Getúlio Vargas, que exercia o poder de forma ditatorial no chamado Estado Novo.

Muitas controvérsias são importantes de serem discutidas nesse dia. Podemos começar inclusive pela palavra “índio”. Termo que não define e sim, pode inclusive pejorativamente, ter significados como largado, sujo, selvagem, canibal, bugre.

O melhor termo é indígena, que significa “original do lugar”, um “nativo”.

A comemoração dessa data geralmente costuma generalizar a diversidade indígena, desinformando, discriminando e criando uma imagem equivocada, folclórica e distante da realidade dos povos originários.


O que comemorar?

Para os indígenas a sensação é para que comemorar? Ou o que comemorar? Massacre não se comemora. O que vemos é uma grande contradição. De um lado, uma comemoração oriunda de uma data onde se definiu algumas medidas genéricas a serem tomadas em defesa dos povos indígenas, como "respeito à igualdade de direitos e oportunidades para todos os grupos da população da América" e "respeito por valores positivos de sua identidade histórica e cultural”.

Do outro lado vemos ataques constantes do governo federal aos direitos dos povos indígenas, invasão de terras e péssima administração na saúde dos indígenas na pandemia. Além disso, a sociedade vê os povos originários como personagens folclóricos, de histórias antigas e que não evoluíram. O sistema econômico os vêm como improdutivos e que impedem o desenvolvimento do acúmulo de capital.

As questões dos povos originários parecem muito mais um problema do que um tema de valorização e respeito para comemoração.

A próxima edição do Pavio Curto será dedicada aos povos originários e sua luta. Traremos entrevistas, charges e muito conteúdo sobre o tema.


 Dia 21, 1792 

Tiradentes

Em 1789, os mineiros tentaram organizar um movimento pela independência. Foi a Conjuração Mineira. Os revoltosos queriam que sua capitania não dependesse mais de Portugal e comprar produtos de qualquer comerciante, e não apenas dos amigos do rei. Produzir aqui muitos artigos que eram obrigados a importar.

Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, um dos líderes do movimento, foi enforcado no dia 21 e abril de 1789. Sua cabeça ficou exposta em um poste em praça pública, na cidade de Ouro Preto. Hoje, nessa praça, existe uma estátua de Tiradentes.

A classe dominante que matou Tiradentes, mais tarde fez desse dia um feriado nacional. Ela tem medo do povo. Primeiro mata seus líderes, depois levanta estátuas, roubando assim do povo seus próprios símbolos de resistência.